Filosofia

Filosofia

sexta-feira, 4 de março de 2011

A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA

Marilda Iwaya


Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a
rezar... (Assis Valente)


Imagine se algo semelhante ocorresse hoje,
ou se nos fosse dado o poder de saber
o dia de nossa morte? Como agiríamos? O
que pensaríamos? Para muitos, a consciência
de nossa finitude, a certeza de que somos
mortais, levaria a repensar nossos valores,
nossos atos cotidianos, nossas preocupações,
as quais, numa situação como a colocada
acima, ganhariam outra dimensão.
Os versos citados acima pertencem à música
“E o mundo não se acabou” do compositor
Assis Valente (1908-1958), e foram inspirados
numa notícia divulgada nas rádios do país
no ano de 1938.

A notícia era uma brincadeira (é claro), mas o fato provocou a preocupação
e agitação da população do país que teve as mais variadas
reações, desde gastar todo o dinheiro, até praticar atos considerados
insanos...
“Beijei na boca de quem não devia
Dancei um samba em traje de maiô” (Assis Valente)
Talvez nem seja necessário pensar no fim do mundo, ou na própria
morte, mas o simples fato de ficar “frente a frente” com a perda de alguém
muito querido, comover-se com as catástrofes que levam à morte
de milhões de pessoas ou com o drama cotidiano dos doentes e famintos
que passam a vida somente em busca de alimento, e morrem
ignorando totalmente as possibilidades que a vida pode nos oferecer,
sejam situações que certamente levam muitos de nós a pensar sobre o
sentido da vida, sobre as razões de nossa existência, sobre os motivos
que fazem cada um de nós termos vidas tão diferentes.
Estas são questões que incomodam a humanidade desde os mais
remotos tempos, muito antes dos filósofos gregos colocarem as clássicas
questões: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Para
que viemos?
A busca dessas respostas motivou-nos a desenvolver o que podemos
chamar de pensamento sagrado, ou seja, nossa imaginação e inteligência,
movidas pela curiosidade, levou-nos a criar histórias que
nos explicam e aquietam nossas angústias sobre os mistérios acerca da
criação de todo o universo, e sobre o destino que nos espera. É claro
que a ciência também se encarregou de buscar estas respostas, mas
trataremos disto mais a frente.
Segundo Marilena Chauí, filósofa brasileira, o “sagrado opera o encantamento
do mundo” (Chauí,1998: 297), ou seja, essa forma de pensamento
nos remete a um mundo povoado de seres sobrenaturais com
poderes ilimitados que nos observam, nos recompensam, nos castigam,
nos auxiliam, etc. Em todas as culturas conhecidas, vamos encontrar
sinais do sagrado. Não importa se são seres naturais dotados de
poderes sobrenaturais – a água, o fogo, o vento, se animais – o cordeiro,
a vaca, a serpente, se seres com forma humana – santos, heróis, ou
seres imaginários – anjos, demônios. Em outros casos não há deuses,
mas práticas, regras ou rituais com dimensões sagradas. Exemplificando:
para alguns povos indígenas o Sol e a Lua são considerados sagrados,
para os hindus, a vaca é um animal digno de idolatria, os judeus
não cultuam deuses, mas têm seus dogmas, assim como os budistas,
que transformam todo o universo em entidade sagrada.
Juntamente com o desenvolvimento do pensamento sagrado, são
criados os “locais sagrados”, templos, igrejas, sinagogas, terreiros, mesquitas, os céus, que são os lugares estabelecidos para as celebrações,
as homenagens, os sacrifícios, enfim são os lugares em que as pessoas
se reúnem ou aos quais se dirigem mentalmente, para reafirmarem
suas crenças, celebrarem seus rituais. Observe que para algumas religiões,
em alguns momentos históricos, esses locais tornam-se verdadeiros
símbolos de poder, como as catedrais medievais.

O que são os rituais?
Os rituais são atos repetitivos, que rememoram o acontecimento
inicial da história sagrada de determinada cultura. É fundamental na
celebração do ritual que as palavras e os gestos sejam sempre os mesmos,
pois trata-se de uma reafirmação dos laços entre os humanos e
os deuses. Quem já presenciou uma cerimônia de casamento da Igreja
Católica conhece de antemão as palavras e os gestos que serão ditos
e praticados pelo padre e pelos noivos. Trata-se de um ritual de passagem,
da vida de solteiro para a vida de casado. Os rituais são realizados
para agradecermos graças recebidas, para pedirmos ajuda, para
desculpar-nos por atos considerados incorretos, assim como para sermos
aceitos numa religião, ou nos despedirmos da vida.
Outra importante característica das religiões são os dogmas – verdades
irrefutáveis que são mantidas pela fé. Um dogma jamais pode
ser questionado, ou colocado em dúvida. Por exemplo: a transformação
do vinho e do pão em sangue e corpo de Cristo.
Este conjunto de símbolos sagrados, que inclui o pensamento religioso,
somado aos locais e rituais sagrados formará um sistema religioso,
ou uma religião.

São muitas as definições propostas a este termo. Por tratar-se de um
aspecto ao mesmo tempo amplo, multifacetado e que envolve a subjetividade
humana, torna-se quase impossível chegar-se a algum consenso.
No entanto, escolhemos para este texto uma pequena definição
de Peter Berger, sociólogo norte-americano:

“a religião é uma obra humana através da qual é construído
um cosmo sagrado” (BERGER apud FILORAMI&PRANDI, 1999: p.267).

Em sua definição, Berger contempla tanto o aspecto transcendental
quanto o cultural (obra humana).
Prosseguindo nesse raciocínio, cabe a explicação etimológica da
palavra religião. A partir de um pensamento de Santo Agostinho o qual
nos propõe que liguemos nossa alma a um único Deus, temos hoje a
associação da palavra religião a “religar”. Ligar o que a quê? Ligar o
mundo sobrenatural, sagrado, ao mundo humano, ou profano, fazer-nos
crer (e este é um aspecto fundamental da religião: a fé), que nós mortais
não estamos sozinhos no universo, que há um sentido para a vida, e que
cabe a cada um de nós tentarmos descobrir a que viemos.

Em resumo, consideramos que esta seja uma das formas de compreendermos
o pensamento religioso:
A religião como uma forma de alimento às nossas esperanças, como
uma força que nos impulsiona em direção a construção daquilo
que consideramos justo, ético e ideal. A crença de que em última instância,
algo ou alguém irá nos socorrer, que não estamos abandonados
à própria sorte, pode nos dar a força necessária para prosseguirmos
em nossa aventura pela vida! A religião pode também nos ensinar a conviver com nossos conflitos interiores e aceitarmos o que é inevitável,
caso contrário, a vida se tornará inviável. Talvez elevar o pensamento
ao Céu possa colocá-lo à altura de nossos desejos.
Mas por que estudar a religião, e suas várias manifestações?
Antes de tudo porque não vivemos isolados no mundo. Estamos
em contato contínuo com as mais diversas culturas do planeta! Já há
muito tempo a antropologia nos alertou sobre os riscos e os prejuízos
que o pensamento etnocêntrico causaram à humanidade. Quantas
culturas arrasadas, quantos povos destruídos e dominados em virtude
da ignorância e da arrogância de outros, mais poderosos economicamente.
Hoje, é inadmissível termos este tipo de atitude, qual seja, a
de olharmos com superioridade para povos com culturas diferentes da
nossa, julgarmos como inferiores comportamentos culturais que nos
parecem “estranhos” ou exóticos. Conhecer as diferentes religiões que
se espalham por nosso país e pelo mundo afora, possibilita-nos abrirmos
os olhos para o mundo, ou melhor, conhecermos outras dimensões
para se compreender e explicar a vida e o universo. Veremos que
o mundo é muito maior do que imaginamos e muito mais fascinante
depois de conhecermos as histórias que buscam dar significado às
nossas existências.
Uma segunda forma de compreensão do pensamento religioso é percebêlo
como instrumento de dominação, de intolerância, e que ao extremo pode
chegar ao fanatismo religioso.
No Brasil, temos hoje o respeito e a tolerância pelas mais diversas
religiões. Não somos obrigados a seguir uma única religião, como
ocorre em alguns países. Inclusive a Constituição Nacional nos assegura
a liberdade de credo e de culto segundo o art.5º, cap.I, inciso VI.
Isso significa que, ao nascermos, quase sempre seguimos a religião de
nossa família, mas que ao longo da vida podemos escolher uma nova
religião, ou mesmo optarmos pelo ateísmo.
Essa conquista, no entanto, foi obtida por meio de muita luta e de
muita opressão. Relembrando um pouco da história de nosso país, vamos
chegar aos povos nativos que aqui habitavam. Estes povos, assim
como ocorre em todas as sociedades “primitivas”, tinham o pensamento
religioso como eixo central de suas vidas, o sagrado permeando todas as
relações e explicando todos os acontecimentos da comunidade. Tinham
portanto, seus deuses, seus rituais, que davam significado à sua existência.
A chegada dos europeus, povos de tradição católica, na condição de
colonizadores, provocou um verdadeiro massacre cultural.
Os padres jesuítas, representantes do catolicismo, iniciaram, no Brasil,
na primeira metade do século XVI, sua obra de catequização, impondo
novos valores e uma visão de mundo aos curumins, que em nada
correspondiam à cultura daqueles povos.

A visão eurocêntrica fazia-os crer que os indígenas, apesar de estarem
situados numa escala inferior de humanidade, se comparados aos
europeus, ainda assim poderiam ser cristianizados e salvos com intervenção
de um religioso que lhes encaminhasse para a fé.
Logo em seguida, com o processo de colonização, povos africanos
foram trazidos como escravos e consigo carregam também seus cultos,
suas crenças, seus rituais, enfim sistemas religiosos estruturados
há muito tempo. No Brasil, essas pessoas foram tratadas como mercadorias,
como coisas, e portanto, suas crenças também foram desprezadas,
ou pior, proibidas. Mais tarde houve a vinda de outros povos
europeus e asiáticos que imigraram em busca de terras e trabalho. Junto
com seus sonhos, trazem também suas religiões, as quais buscaram
preservar, como forma de manterem-se unidos e mais fortes numa terra
tão estranha a seus hábitos culturais.
No entanto, mesmo com todas essa variedade religiosa, as leis brasileiras
declaravam o catolicismo como a religião oficial do país. Aliás,
a Igreja Católica, no Brasil sempre teve um poder muito grande, não
somente em seu âmbito, mas também nas questões políticas nacionais
e regionais. Até o advento da República, Estado e Igreja legislavam
em conjunto, decidindo os rumos da nação. Ainda no período Vargas
(1930 – 1945), vamos encontrar fortes influências dos chamados setores
católicos na política nacional.

Mas por que a Igreja Católica possui tanto poder?
A origem deste poderio da Igreja Católica pode ser encontrado no
fim do Império Romano do Ocidente, com a legalização do cristianismo
no ano 313. A partir daí, o progresso do cristianismo se acelerou, chegando ao seu auge na Idade Média européia. Nesse período da história,
a Igreja Católica reinou absoluta, decidindo os destinos dos reinos
e dos indivíduos. Todos eram obrigados a professar a mesma religião,
e aqueles que não obedecessem seriam duramente castigados.
Foi um tempo de muito terror e mentiras. Qualquer ato ou sinal que
contrariasse os rígidos preceitos da Igreja eram considerados heresia
ou feitiçaria, motivos para perseguições e castigos.

A Inquisição era um verdadeiro
tribunal que julgava e
condenava as pessoas que
considerava hereges. Qualquer
um que questionasse as
idéias e as práticas da Igreja
poderia ser levado aos tribunais
do Santo Ofício.

Muitos séculos se passaram, e somente no século XVI, veremos o
poder da Igreja Católica ser abalado, com o Movimento da Reforma
Religiosa. A Reforma constituiu-se num rompimento da Igreja Católica
e teve como conseqüência religiosa o surgimento de novas igrejas
– conhecidas como protestantes (luteranismo, calvinismo). O conflito
tem início quando Martinho Lutero (1484–1546), monge alemão rompe
com o Papa porque discordava de algumas práticas da Igreja, como
a venda de indulgências, de relíquias e cargos.
A partir do Iluminismo, teremos o acirramento do conflito entre ciência
e religião. Galileu Galilei (1564–1642) foi obrigado pela Igreja a
negar sua teoria (heliocentrismo), caso não desejasse sofrer as penas
da Inquisição. O Iluminismo introduziu formas inéditas de ver o mundo,
que até então era percebido somente em termos religiosos, e esta
nova visão estava associada a uma nova classe social que se insurgia
contra o poder aristocrático. Neste período (séc.XVIII), a religião está
associada ao poder aristocrático. Portanto, é fácil perceber que a luta
contra o pensamento religioso transformou-se numa luta política, contra
os representantes deste pensamento conservador.
É neste contexto histórico (séc.XIX), que alguns teóricos da Sociologia
iniciam seus estudos sobre a religião. Karl Marx (1818 -1883), Émile Durkheim (1858 -1917) e Max Weber(1864 -1920) mais uma vez
nos auxiliam nesta tarefa da Sociologia de analisar contextualmente e
desnaturalizar as relações sociais. Chegam a conclusões distintas em
suas análises e reflexões sobre as funções da religião nas sociedades.
No entanto, num aspecto é possível observar a convergência entre os
três pensadores: são unânimes em anunciar o previsível fim da religião.
Afirmam que com o desenvolvimento das sociedades industriais,
a religião tenderia a perder espaço para outras atividades sociais. Ou
seja, a modernização e a industrialização levaria ao que a Sociologia
denomina de processo de secularização.
É!! Parece que se equivocaram! Caso contrário não estaríamos neste momento
gastando nossas horas com esse estudo.
Para Durkheim, a religião teria a função de fortalecer os laços de
coesão social, e contribuir para a solidariedade dos membros do grupo.
Por isso, as cerimônias e os rituais ganham uma grande importância,
uma vez que são estes momentos que possibilitam o encontro dos
fiéis e a reafirmação de suas crenças. Durkheim iniciou e baseou suas
análises em uma pesquisa realizada com os povos aborígenes australianos,
na qual abordava a prática do totemismo. Um totem é um objeto
sagrado, um símbolo do grupo, venerado nas cerimônias ritualísticas. Pode
ser uma planta, um animal, ou objeto, que por possuir, em sua origem, um
significado especial para o grupo, adquire o caráter de sagrado. A utilização
do termo Totem está restrito às religiões chamadas “elementares”
ou simples. Reafirmando, podemos concluir que para Durkheim, a religião
possui unicamente a função de conservar e fortalecer a ordem
estabelecida. De forma alguma pode ser associada a questões de poder
político ou ideológico.

“A secularização representa
o processo por meio do qual
a religião perde sua influência
sobre as diversas esferas
da vida social”. (GIDDENS,
2005, p. 437)


Marx muitas vezes foi citado como um crítico mordaz da religião,
devido principalmente à sua famosa frase: “a religião é o ópio do povo”
(MARX, 1991: 106). Mas veremos que isto não é bem assim. Marx foi um
grande pensador e crítico do sistema capitalista. Suas análises e críticas
estão focadas no lucro, na mais-valia, na divisão da sociedade entre
burguesia e proletariado, na luta de classes. Portanto, suas principais
preocupações estavam focadas nas condições materiais das vidas
das pessoas, na concretude do sistema. Para ele, a forma como a sociedade
se organiza para produzir os seus bens materiais, ou seja, a forma de organização do trabalho vai exercer forte influência sobre a forma
como as pessoas pensam. Este pensar é representado pelo conjunto de
valores e conhecimentos impostos pelo Estado e pela religião. Em seu
texto “A questão judaica”, escrito em 1844, Marx discute a respeito do
papel desempenhado por estas instituições no sentido de controlarem
e modelarem o pensamento social.
Para Marx, a sociedade civil só terá condições de alcançar a liberdade,
ou a “emancipação humana” quando tiver condições de participar
efetivamente das decisões políticas do Estado, e por conseguinte
alcançar a verdadeira democracia. Mas atenção! Entenda-se democracia
não somente em sentido político/eleitoral, como nos ensinaram os
liberais do século XVIII, mas sim em seu sentido pleno, como igualdade
na distribuição dos bens socialmente produzidos e materializados na forma
de direitos sociais.
Por esse motivo, podemos afirmar que para Marx, a grande transformação
deveria acontecer no modo da sociedade produzir e distribuir
seus bens, assim como na presença de um Estado que atendesse
aos interesses coletivos, pois uma vez construída uma sociedade justa
e igualitária, não haveria mais necessidade das pessoas sonharem com
um mundo ideal, ou um paraíso. “Ópio do povo” significa que o povo
projeta em seus deuses e no mundo sobrenatural a vida que deseja ter
aqui na Terra. Esta forma de pensar leva à resignação, a aceitação das
condições de nossa vida como um destino que não pode ser modificado.
Mas Marx demonstra grande compreensão pela manifestações religiosas
quando afirma: “a religião é o coração
de um mundo sem coração” (MARX, 1991:106), ou
seja, a religião é o único refúgio, o único consolo
para aqueles a quem a vida é muito dura
e ingrata. Essa é mais uma forma de compreendermos a
religião. Que nos leva à acomodação, à submissão,
à aceitação de nosso lugar na sociedade sem questionamentos
como nos sugere o ensinamento “é
mais fácil um camelo passar num buraco da agulha
que um rico entrar no reino dos céus”.



Weber foi um grande estudioso da religião. Empreendeu análises
comparativas entre as religiões orientais e ocidentais, com o objetivo
de compreender as razões do desenvolvimento do capitalismo na Europa.
Concluiu que o mundo oriental não oferecia condições para este
tipo de organização econômica devido aos seus sistemas religiosos
(que veremos adiante), os quais pregavam valores de harmonia com o
mundo, de passividade em relação às condições de existência, ao contrário
das religiões cristãs que incentivavam o trabalho e a prosperidade.
Em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber
desenvolve um interessante estudo em que demonstra o quanto
os protestantes (em especial os calvinistas) contribuíram para o desenvolvimento
do capitalismo. Esses possuíam um forte espírito empreendedor
baseado na crença de que com o trabalho estariam servindo a
Deus. O enriquecimento e o sucesso material eram sinais de favorecimento
divino.
Esses são, portanto, três possíveis olhares sociológicos sobre a instituição
religiosa.
Como já comentamos anteriormente, saber da existência e conhecer
outras religiões, além de ampliar nosso universo cultural e nos
ensinar a respeitar a diversidade cultural, leva-nos principalmente a
compreender melhor nossa própria religião. Sim, porque só nos percebemos
como construtores de cultura na medida em que conhecemos a
cultura do outro. Quando só conheço o meu mundo este se torna “natural”,
ou o único possível!
Importa ressaltar, antes de conhecermos o quadro das religiões, a
existência de uma postura filosófica denominada Ateísmo. Surge na antigüidade
greco-romana e ganha maior espaço à partir do século XVIII,
com o surgimento das teorias anarquistas, liberais e socialistas. Consiste
na total ausência de explicação divina para a vida.
Vamos, em seguida, apresentar as principais religiões que podemos
encontrar espalhadas por todo o mundo. Apenas citaremos e apontaremos
algumas características de cada uma delas. O interesse e a curiosidade
de vocês poderá levar à pesquisa e ao aprofundamento sobre
o assunto.
Religiões originárias do Extremo-Oriente
Taoísmo
Baseia sua doutrina num livro chamado “Tao Te Ching” – o livro do
Tao (ordem do mundo) e do Te (força vital), escrito presumivelmente
pelo filósofo chinês Lao Tsé, no séc. VI a. C. O Taoísmo prega a passividade
para se alcançar o Tao, ao contrário do confucionismo que propõe
o conhecimento. Para Lao Tsé, o mundo ideal era aquele das antigas
aldeias, onde a simplicidade e a ingenuidade criariam as condições
propícias para o perfeito equilíbrio entre o Tao e o Te.


Xintoísmo
Trata-se da antiga religião oficial do Japão. Originariamente não
possuía um fundador, doutrinas nem dogmas. Estrutura-se por intermédio
de um conjunto de mitos e ritos que estabelecem o contato com
o divino e explicam a origem do mundo, do Japão e da família imperial
japonesa. O universo xintoísta é povoado por milhares de deuses,
denominados kamis – que se manifestam na forma de rios, montanhas,
flores, seres humanos, animais, etc. Kami também pode ser traduzido
por espírito, sendo o culto aos ancestrais uma das práticas mais importantes
do xintoísmo.

Hinduísmo
São surpreendentes a permanência no tempo e a complexidade
desta religião, que perdura há aproximadamente 6 mil anos, e compõe-
se de tão grande variedade de cultos e práticas religiosas, que
pode ser considerada como um grande conjunto formado por várias
pequenas religiões. Mas algumas características unem todos os hinduístas,
quais sejam: o sistema de castas, a adoração às vacas e a crença
no carma. A organização da sociedade em castas parte do princípio de
que os indivíduos vêm ao mundo já ocupando um lugar na hierarquia
social, como resultado de suas encarnações nas vidas passadas. Portanto,
este deve cumprir com resignação a função que lhe coube, porque
um viver com pureza pode resultar como “prêmio”, uma vida futura
numa casta superior. As quatro castas do hinduísmo são: 1º. – os
sacerdotes (brâmanes), 2º. – guerreiros, 3º. – agricultores, comerciantes
e artesãos e 4º. – os servos. Um quinto grupo que não é considerado
casta são os párias. Cada casta tem suas próprias regras de condutas e
suas próprias regras religiosas.
A vaca é considerado um animal sagrado, um símbolo da vida, porque
ela supre tudo que é necessário à sobrevivência humana, portanto,
não é permitido matá-la.

Budismo – criado na Índia, pelo príncipe Sidarta Gautama
O Buda (o iluminado), por volta do séc.
VI a.C.. Este é tratado pelos adeptos do budismo
como um guia espiritual, e não um deus.
Importa ressaltar que Buda era absolutamente
contra o sistema de castas existente na Índia.
Segundo o budismo, o ser humano está
condenado à reencarnação após cada morte,
e a enfrentar novamente os sofrimentos do
mundo (lei do carma). Para encerrar este constante
ciclo, deve-se buscar o estado da perfeita
iluminação, ou nirvana. Este estado é alcançado
por intermédio da meditação e da contemplação, que corresponde à negação dos desejos – fonte de todos os
sofrimentos.

Confucionismo
Foi a doutrina oficial da China durante quase dois mil anos (do séc.II
ao início do séc. XX). Criada pelo filósofo Confúcio (Kung Fu Tzu), seus
ensinamentos apontam no sentido da busca do caminho do Tao – que seria
o equilíbrio e a harmonia entre o universo, a natureza e o indivíduo.
Para alcançar este caminho é necessário o conhecimento e a compreensão,
os quais são obtidos por meio do estudo do passado, da tradição. A
respeito da vida após a morte, Confúcio não ousava comentar, uma vez
que ainda não havíamos compreendido o que é a vida na Terra.

Religiões de origem africana
Citaremos aqui somente as principais religiões afro-brasileiras presentes
hoje no Brasil, não esquecendo de que, na África, encontraremos uma
grande variedade de religiões – as religiões tradicionais ou tribais.

Candomblé
Originário da África, o candomblé chegou ao Brasil junto com os
primeiros escravos africanos, entre os séc. XVI e XVII. Seus deuses
são chamados de Orixás e representam as principais nações africanas
de língua iorubá. Suas cerimônias são realizadas em língua africana,
acompanhadas de cantos e sons de atabaques. Como esta forma de religião
era proibida no Brasil, seus adeptos associaram seus deuses a
santos católicos, criando o que se conhece como sincretismo religioso.
Os deuses do candomblé dão proteção às pessoas, mas não determinam
como essas devem agir, e não castigam caso essas cometam algo
considerado incorreto para a sociedade.

Umbanda
É uma religião brasileira, resultado da
fusão de duas religiões africanas: a cabula
e o candomblé, e de crenças européias.
O universo para os umbandistas é
habitado por entidades espirituais – os
guias, que entram em comunicação com
as pessoas por intermédio dos iniciados,
ou médiuns. Os guias assumem formas
como o caboclo, a pomba-gira, o preto
velho e outros. A umbanda se propagou
por todas as regiões do Brasil, e é freqüentada
por pessoas de todas as classes
sociais e todas as origens étnicas.

Religiões originárias do Oriente-Médio
As religiões comentadas abaixo adotam a prática do monoteísmo,
ou seja, o culto a um único Deus.

Judaísmo
É a mais antiga da três grandes religiões monoteístas, sendo suas
origens encontradas há aproximadamente 1.OOO anos a.C. A palavra
judeu deriva de Judéia, parte de uma região do antigo reino de Israel.
Os judeus crêem num único Deus, onipotente, o qual estabeleceu com
eles um pacto, uma aliança. Por isso, consideram-se “o povo escolhido
por Deus”. O livro sagrado dos judeus é a Bíblia judaica, ou Torá, que
corresponde ao Antigo Testamento dos cristãos, porém organizada de
uma forma um pouco diferente.
A vida dos judeus é regida por normas rígidas estabelecidas por
Deus. O não-cumprimento dos deveres com Deus e com seus semelhantes
implicará em castigos divinos.

Cristianismo
Tem origem no séc.I, na região ocupada
hoje pelos atuais Estados de Israel e territórios
palestinos. Seus primeiros adeptos são os seguidores
de Jesus Cristo e de seus apóstolos.
A doutrina cristã nos ensina que Deus envia à
Terra, seu filho Cristo – o salvador, o qual foi
morto a favor dos homens que estavam distanciado-
se de Deus. Na sua ressurreição Jesus
oferece às pessoas a possibilidade de salvação
eterna após a morte, caso essas aceitem seguir
seus preceitos de amor a Deus e aos seus semelhantes.
O cristianismo segue a Bíblia, que
se divide em Antigo e Novo Testamento. Algumas
vertentes do cristianismo são apresentados
a seguir:
Igreja Católica Romana
Igreja Ortodoxa
Igreja Anglicana
Igreja Luterana
Igreja Presbiteriana
Igreja Metodista
Igreja Batista

Igreja Pentescostais: Congregação Cristã no Brasil
Assembléia de Deus
Evangelho Quadrangular
Deus é Amor
Igrejas Neopentecostais: Igreja Universal do Reino de Deus, entre outras.
Cristianismo de fronteira: Mórmons
Adventistas
Testemunhas de Jeová
Islamismo
Sua origem baseia-se nos ensinamentos do profeta Maomé, assim
como ocorre com o cristianismo. A palavra islã significa submeter-se.
Seu deus é chamado Alá, e seus seguidores são conhecidos como muçulmanos
(em árabe Muslim, aquele que se subordina a Deus). O livro
sagrado do islamismo é o Alcorão, sendo seus principais ensinamentos:
onipotência de Deus e a necessidade de bondade, generosidade e justiça
entre as pessoas. A maioria dos muçulmanos está concentrada no
norte e no leste da África, no Oriente Médio e no Paquistão.
Após elencarmos todo este numeroso rol de religiões e suas subdivisões
em igrejas, que alíás não termina aqui, se você pesquisar, certamente
encontrará outras ramificações destas religiões ou seitas isoladas
e provavelmente você ficará surpreso com a quantidade e a diversidade
de manifestações religiosas existentes no mundo. Este quadro constitui-
se no que se chama de pluralismo religioso,
e certamente nos coloca importantes
questões sociológicas, que não poderão ser
aprofundadas neste momento, mas sobre
as quais vale a pena pensar:
A lógica do mercado que nas últimas décadas
do século XX invadiu todas as esferas
da vida humana nas sociedades capitalistas
não poupou as religiões. Por isso, temos
que estar atentos aos “espertalhões”, que se
aproveitam dos sofrimentos e falta de perspectivas
das pessoas para vender sua “mercadoria”
e ganhar adeptos que favorecerão
seus “negócios”.
O desenvolvimento industrial levaria a uma
perda da influência das religiões, diziam os
teóricos do séc. XIX. A ciência avançou vertiginosamente
no último século, e as religiões,
por sua vez, ganharam uma abrangência e diversidade
nunca antes conhecidas. É importante
observar o papel dos meios de comunicação
na difusão de mensagens religiosas,
que chegam prontas em nossas casas.

Não importam suas crenças religiosas, não importa se você é ateu.
Mas importa que você não espere o mundo acabar para lembrarse
da experiência da vida, do presente, que se acaba e recomeça a
cada dia.

Sugestões de filmes:
“A letra escarlate”,1995,E.U.A,direção: Roland Joffé
“Em nome de Deus”, 2002,Inglaterra, direção: Peter Mullan
“Lutero”, 2003, Alemanha/E.U.A, direção: Eric Till
“O corpo”, 2001, E.U.A., direção: Jonas MC Cord
“Tenda dos Milagres”, 1977, Brasil, direção: Nelson Pereira dos Santos
“O nome da Rosa”, 1986, Alemanha/França/Itália, direção: Jean Jacques Annaud.
“A missão”, 1986, Inglaterra, direção: Roland Joffé
Referências:
ALVES, R. O que é religião. 17 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998.
DURKHEIM, É. Religião e conhecimento In: Sociologia. 2ª ed. São Paulo: Ática,1981.
FILORAMO,G.; PRANDI,C. As ciências das religiões. São Paulo: Paulus,1999.
GAARDER, J.; HELLERN,V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
GEERTZ, C. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
GIDDENS, A. Sociologia; 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MARX, K. A questão judaica. 2ª ed. São Paulo: Moraes, 1991.
MARX, K. Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel. In: A questão judaica. 2 ed. São Paulo: Moraes,
1991.
ORTIZ, R. Iluminismo e religião. In: Revista Religião e Sociedade. São Paulo: Vozes, mar/1986.
PRANDI, R. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
RAMINELLI,R. Imagens da colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro:
Zahar,1996.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo.15ª ed. São Paulo: Biblioteca Pioneira
de Ciências Sociais. 2000.

Um comentário:

Anônimo disse...

...Parabéns pela sua postagem.
deixa bem esclarecido nossas dúvias,q obvio são muitas!
Mas q ao longo de nossas vidas serão decifradas, mas algumas seão um mistério total.
Parabéns seu texto me ajudou muito no meu trabalho de "FILOSOFIA", e no meu entendimento pessoal.
xauxau bjos amigo !! :)