Filosofia

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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Karl Marx, materialismo histórico e o comunismo


 

 

A contribuição de Karl Marx para a compreensão da vida em sociedade é uma das mais importantes de toda a história. Inserido em um contexto de grande instabilidade política e imbuído da tarefa de revolucionar o mundo tal como se mostrava até então, Marx e seus seguidores legaram um conjunto de explicações que influencia o pensamento social até os dias de hoje.

Marx nasceu em 1818 na cidade de Triers, que fazia parte do então reino da Prússia (atual Alemanha). Após ter estudado Direito e tomado contato com o pensamento de Hegel e com a economia clássica, Marx passa a elaborar, em parceria com seu colega Friedrich Engels, uma série de ideias e conceitos que caracterizarão o chamado materialismo histórico.Essa corrente de pensamento e o projeto político comunistapelo qual irá militar são as principais contribuições de Marx ao desenvolvimento da sociologia.

E o que é o materialismo histórico? E o que significa o comunismo para Marx e a Sociologia? É a resposta a essas perguntas que nos interessa aqui.

De maneira bastante simplificada, podemos afirmar que o pensamento de Marx é uma crítica radical à sociedade capitalista; nessa crítica, ele tanto procura demonstrar os fundamentos da vida social no capitalismo (a contribuição teórica) como propor meios e caminhos para a superação das contradições desse sistema (a contribuição política). Os fundamentos da vida social deveriam ser buscados nas relações materiais dos indivíduos em sociedade, ou seja, nas formas pelas quais os seres humanos satisfazem suas necessidades materiais. Nesse ponto, Marx inverte o argumento de Hegel, que propunha a explicação da vida em sociedade a partir das ideias e/ou da consciência humana; no marxismo, a consciência humana e as ideias que existem na sociedade são o resultado, direto ou indireto, das necessidades da vida. Ou, como ele afirma em uma de suas passagens mais famosas, “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.

Partindo das ideias de Marx, podemos imaginar a sociedade como um edifício de vários andares: nas fundações, ou seja, naquilo que dá sustentação a todo o edifício, estão as relações materiais: a forma pela qual as pessoas possuem algo, a maneira como produzem e consomem os bens, a maneira como trabalham e são remuneradas, as técnicas utilizadas na produção; acima de tais relações (ou da estrutura), encontram-se ideias tais como a religião, a cultura, a política, etc. As relações materiais (a estrutura do edifício) sustentam e tornam possível a superestrutura (o conjunto das ideias e manifestações sociais).

“(…) A história de toda a sociedade até hoje é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burguês da corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, uma luta que acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes em luta.” MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.

Um conceito fundamental nas explicações marxistas é o de classe social. Para Marx e seus seguidores, a sociedade não é uma “coisa” una, homogênea e sem divisões: na realidade, qualquer agrupamento social, em qualquer época, sempre teve em seu interior divisões entre os homens que o compunham. Na Antiguidade Clássica, na Idade Média ou nos nossos dias, há uma parcela minoritária da população que controla, de maneiras mais ou menos explícitas, as demais parcelas (ou classes). Ou seja, há classes que dominam e classes que são dominadas. Nesse esquema explicativo, as transformações históricas seriam o reflexo do inevitável conflito que existe entre as classes sociais.

Nas palavras de Marx, “o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral”; “na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais”. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.Compreendida tal concepção, torna-se mais fácil entender o projeto político empreendido por Marx. O século XIX na Europa já foi chamado por um historiador como “a era das revoluções”, devido às inúmeras perturbações políticas e sociais que aquele continente sofreu como desdobramentos da Revolução Francesa e das ideias liberais. A perda da hegemonia das grandes dinastias hereditárias, a agitação das classes trabalhadoras, a difusão das ideias socialistas e liberais e os anseios imperialistas mostravam-se para Marx como o momento histórico no qual uma classe (os trabalhadores) poderia romper a hegemonia burguesa e superar o modo de produção capitalista. Ou seja, a interpretação do mundo empreendida por Marx e Engels (o materialismo histórico) não se esgotava em si, pois era preciso transformar o mundo (através da militância comunista). Os ideais políticos de Marx e Engels estão expressos no Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848.

Se fôssemos resumir, em uma lista, os conceitos fundamentais para entender o pensamento de Karl Marx, veríamos que vários deles incorporaram-se ao vocabulário corrente quando falamos sobre a vida social: a classe, o modo de produção, a ideologia e a alienação são conceitos que, se não foram criados por Marx, ganharam um novo e importante significado a partir dele.

O pensamento marxista, dessa forma, abriu as portas do conhecimento sobre a sociedade a partir de uma perspectiva inédita, ainda que usasse muitas ideias de outros autores. Ao colocar novas perguntas, o marxismo abre a possibilidade de que o homem interprete fenômenos como o capitalismo, o trabalho, a política e o Estado. Ao lado de Durkheim e Max Weber, as obras de Marx vão ajudar a definir o campo e o objeto de estudo da sociologia.

Professor colaborador: Christiano E. Ferreira